quarta-feira, 28 de julho de 2010


Escrevo-te outra vez, depois de meses esquecida de sua vida. Peço que não se zangue com minhas palavras tortas, morena. Hoje li teu nome, em um lugar qualquer que não me lembro, só me lembro do contorno das letras reluzindo, e me mostrando que ainda existe você. Sei que o tempo e a vida nos jogou de lados diferentes, lutamos em uma luta desigual, sei que agora o que sentes e um afago ligeiro de uma saudade desleal. Hoje ouvi tua voz, rouquidão contorcida, conturbada, imprecisa, me tomando o peito inundado de fel, como se eu adivinhasse cada palavra tua, e imaginava distante os seus olhos, perdidos do outro lado, procurando algo pra fixar, procurando o que dizer, procurando algum motivo pra desligar. Dizes que mudo todo o tempo, dizes que não tenho mais tempo pra ouvi-la contar sobre o fim. Me soltei de ti sem querer, morena, e tu te soltaste de mim. Como era doce o som dos teus medos, e os acordes imperfeitos do seu violão. Eu poderia respirar a vida inteira o mesmo ar que rodeava teu leito, eu me apegava em seus defeitos, e me supunha forte pra nunca perder, gostavas das coisas imperfeitas, do modo que eu falava, do jeito que eu dizia certas coisas sobre nós. Hoje gostas do seu modo, de uma vida finita, esvaída pelo chão. Mesmo assim, ainda hoje, quando falo de ti, falo de amor.

Não posso fugir por muito tempo. Escreva-me