Os dias haviam passado, e como se esperava, o verão acabava de chegar, aquecendo os corações desesperançosos. O cheiro da cidade mudara, as pessoas andavam diferente, a cor da cidade ao entardecer era linda, e os corações agora se apaixonavam. Saba-se bem que os amores de verão duram pouco, mas alguns duram muito verões, mas isso agora não importava pra todas as pessoas, felicidade chega com o verão, e vai embora ao anoitecer, mas deixa seu cheiro solto na brisa que entra pela janela. Porém, um entre todos os habitantes da cidade sentia seu coração vazio, e o calor gostoso lá fora chegava gelado dentro dele, e as cores eram em tons acinzentados ao entardecer, e os seus olhos viviam sempre recaídos sob coisas invisiveis e paisagens distantes. O verão era a pior das estações pra ele, pois era quente e impreciso, os olhares felizes das pessoas o deixavam mais triste, não é que ele não gostasse da felicidade das pessoas, mas é que a felicidade para ele, era uma amiga que um dia foi muito proxima, e hoje não o visitava mais, e quando os amigos deixam de nos visitar, no começo nós sentimos falta, depois nós não sentimos nada, e depois sentimos rancor por não te-los conosco. O verão era sempre assim, e se nas outras estações ele continuava triste, no verão ele sempre se entristecia mais. O outono chegou, e ele deixou de sentir rancor, e começou a sentir nada, e eis que uma voz já perdida, quase esquecida o parou, e essa voz cantava uma canção que não lhe era estranha. Alí estava ela, e os seus olhos pareciam um verão indiano, eles olhavam pra lugar algum e ao mesmo tempo dentro dele, e os seus passos era rápidos, mas demoravam a passar, o vento levou o seu cheiro contra o rosto dele, e as coisas agora não existiam, e nada existia, e tudo que existia pertencia a ela. Eis que o canto ecoou em todos os comodos da casa, eis que os olhos só enchergavam verões indianos, e as folhas secas nas ruas voavam com o mesmo vento que espalhava o cheiro dela, e ele reconheceu a felicidade assim que a viu, e ela reconheceu o seu velho amigo assim que o viu, e os verões eram agora mais felizes. E os outonos ainda mais.